sexta-feira, outubro 03, 2014

Resposta a "Porque não irei, este ano, à caminhada pela vida"


Caro Padre Nuno,
escrevo-lhe com dor depois de ter lido o texto onde explica as razões porque não vai à Caminhada Pela Vida de amanhã.
Dor porque tenho por si uma grande estima e admiração, fruto do trabalho que eu, desde pequeno, o vejo desenvolver na defesa da vida desde o momento da concepção. E por isso doi-me a desconfiança com que fala da Caminhada Pela Vida deste ano, da qual sou Coordenador-Geral.
Mas sobretudo dor por o Padre Nuno nunca ter procurado saber nada sobre a Caminhada, nem ter pedido nenhuma informação antes de públicamente dizer que a Caminhada quase lhe cheira a enxofre. Ainda mais porque se tivesse vontade de saber mais sobre o assunto lhe bastaria um telefonema ou um mail. Contudo preferiu atacar públicamente uma inciativa que tanto trabalho custou a tantas e tantas pessoas que durantes anos lutaram a seu lado na defesa da Vida. Que um desconhecido fale assim da Caminhada ou da Iniciativa Legislativa de Cidadãos que nela vai ser lançada ainda se pode compreender. Agora que um amigo, um sacerdote, o faça, sem ter procurado antes esclarecer o assunto é uma dor.
Penso que é também uma falta à caridade cristã e ao dever que cada um tem de corrigir o seu irmão em privado, antes de o fazer publicamente. Mas esse juízo deixo-o ao Bom Deus e à sua consciência.
Deixe-me também dizer-lhe que embore aprecie a sua posição moral clara e intransigente em relação ao aborto, ela é abstracta e por isso pouco útil. Para mim, assim como para todos os que organizam a Caminhada Pela Vida, o aborto é uma questão muito concreta: todos os dias nos hospitais e clínicas de Portugal são mortas crianças. E cada uma dessas vidas tem um valor infinito.
Por isso qualquer homem de boa vontade que queira ajudar a travar este flagelo é neste combate meu irmão e meu camarada.
O Padre Nuno não vem à Caminhada porque a ela se juntam políticos que vêm publicamente defender a Vida. Pois esses políticos, apesar do risco que correm nos seus partidos e do desdém daqueles fariseus que dão uma volta de vinte passos ao passar por eles, vão publicamente dar a cara contra o aborto.
Por isso prefiro amanhã caminhar ao lado daqueles que, tão imperfeitos e limitados como eu, se juntam para publicamente defender cada vida. Se a Caminhada de amanhã salvar uma vida, eu já fico contente. Se der força a um projecto-lei que pode diminuir o número de abortos em Portugal, mais contente fico.
Se o padre Nuno acha que a nossa companhia é indigna da sua presença, se prefere apregoar em voz alta "Senhor, obrigado por não me teres feito um pecador como estes" está na sua liberdade. Mas acredite que me entristecerá a mim, assim como a tantos que muitas vezes estiveram a seu lado, o seguiram e o apoiaram na sua luta contra o aborto.
Despeço-me, pedindo que aceite a minha filial saudação em Cristo e pedindo-lhe a Sua Benção.

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