sábado, maio 05, 2007

Lenda Negra I - O caso Galileu


Começo esta série de artigos que prometi sobre as lendas negras falando sobre Galileu, porque ainda hoje é para muitos o sinónimo da pseudo-incompatibilidade entre a fé e a ciência e exemplo da feroz preseguição da Igreja a todos os "livres pensadores"

A lenda é conhecida por todos: Galileu era um grande cientista que defendeu a tese do heliocentrismo e foi por isso perseguido pelas garras da ignóbil Inquisição e sobre tortura foi obrigado num julgamento a abdicar das suas teses, contrárias à Bíblia. E no fim do julgamento solta a sua célebre frase histórica, mais célebre que histórica: Eppur si muove! Em algumas versões da lenda essa frase é exclamada pelo mártir da ciência enquanto é queimado vivo na praça pública.

A verdadeira história de Galileu é que já não tão conhecida...

Em primeiro lugar a tão famosa frase sabe-se hoje que é uma invenção de um jornalista que escreveu em Londres em 1757 uma história, muito bonita mas nada jornalística, sobre o modo como Galileu foi condenado e morto na fogueira.

Mas agora entremos no cerne da questão, o julgamento de Galileu: o que estava em causa não era uma suposta novidade herética que ia contra a letra da Bíblia. De facto, a teoria heliocêntrica não era uma novidade para os cientistas jesuitas da época, e muitos deles eram defensores desta teoria de Copérnico. Mas nessa época a teoria heliocêntrica e geocêntrica eram apenas isso, teorias, ambas com o mesmo peso. Só em 1748 surge a primeira prova indiscutivel da rotação da Terra, rotação que aliás só com a invenção do pêndulo de Foucault no séc. XIX é que foi possivel "ver".

Mas Galileu tinha um feitio dificil. Segundo testemunhos da época, era vaidoso e orgulhoso. E por essa razão afirmava na sua obra que a teoria heliocêntrica era um dado adquirido não uma hipótese. A aprovação que ele conseguiu para a publicação do livro foi dada na condição de ele acrescentar na sua obra que não passava de uma hipótese, coisa que ele não fez, publicando o manuscrito inalterado e continuando a ensinar que era um facto algo que na altura não poderia ser comprovado. Foi por essa razão que ele foi julgado.

Durante o julgamento, que durou quatro dias, Galilei só apresentou um único argumento a favor da sua tese: Dizia que as marés eram consequência do movimento da terra. Os seus "acusadores" disseram-lhe que isso era falso, que as marés (como hoje sabemos) eram provocadas pela atracção da lua, desmontando o único argumento que ele tinha. Então Galileu passou o resto do julgamento a insultar os cardeais que o julgavam. Tanto que no dia 22 de Junho de 1633, depois de ouvir a sentença, agradeceu aos dez cardeais (três dos quais tinham votado a favor da sua abolvição) por lhe ter sido atribuida uma pena tão leve, pois o próprio tinha consciência de ter feito de tudo para indispôr o tribunal.

Quanto à pena aplicada, não houve nem prisão, nem torturas, nem fogueiras. Aliás nem sequer sofreu o encarceramento normal de quem estava à espera de ser julgado. Quando foi chamado a Roma para o processo ficou instalado, a despesas da Santa Sé, numa grande vivenda com vista para os jardins do Vaticano e com um criado pessoal. Depois da sentença, o "condenado" instalou-se na maravilhosa Villa Médici, de onde passou ainda para o palácio do arcebispo de Siena antes de se recolher à sua villa am Arceti, onde passou a viver em prisão domiciliária. Nunca lhe proibiram de continuar os estudos, e foi nesses anos que publicou a sua obra mestra, nem lhe foram vedadas as visitas. De facto os grandes intelectuais da época iam regularmente visitá-lo para discussões científicas. Rapidamente a própria prisão foi levantada. A única pena que continuou foi a de rezar todos os dias od salmos penitênciais, mas mais uma vez esta pena foi levantada, Galileu continuou apenas porque era um homem devoto. Morreu em 1642 com indulgência plenária e benção papal.

Esta é a verdadeira história do verdadeiro Galileu.

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